Não queria dar mais palco ao André Ventura, porque para isso
já basta a minha campanha contra o “dito” no meu perfil de Facebook, mas
perante o chorrilho de asneiras que aquele cromo solta sem pudor, é impossível ficar
sossegadito (e ter comentado esta publicação do Dezanove, deixou-me em broa - ou seja, também
não me ajudou a ficar zen). E logo eu, que em algumas situações tenho o “coração ao pé da boca”. Mas antes
isso, que outra coisa. Adiante.
Ao contrário do que muitos dizem, “ele não diz o que toda a gente
pensa, mas não tem coragem de dizer”, nem sequer “tem razão, pecando só pela forma
como verbaliza”. Não. Não, caríssimos e caríssimas (agora como é moda escrever
ou falar assim, nos dois géneros, eu acompanho), o André Ventura “apenas” é perigoso.
E não tenhamos dúvidas, dentro dele (ou por trás, ou pela frente, não interessa)
existe um Hitler’zinho a possuí-lo com toda a força, sem lubrificante. E o que
temos a ver com isso? Muito. Tudo. Não podemos achar que prescindir da nossa
liberdade (plena) em prol de umas parvoíces contra a comunidade cigana, nos
coloca a salvo, porque são apenas “ciganos” e eles no fundo, no fundo, são
desordeiros. Bom, como tudo na vida, e agora acredito que vão ficar chocados
com esta revelação: há ciganos bons, há ciganos maus. Há pessoas com olhos azuis
boas e outras más. Há de tudo um pouco na vida, e não é por se ter determinada
condição, ou característica, que isso nos impele logo para a marginalidade (ou
para a santidade).
Não tenhamos ilusões (sendo que quem ainda as tem, ou é ingénuo,
ou simplesmente tonto) sobre ao que vem o “Venturita”. Aliás, basta ver o programa
eleitoral do seu partido neofascista, para se ter uma pequena ideia. Hoje os
ciganos. Amanhã os gays. Os anões. Os deficientes. Os idosos. Todos aqueles que
“eles” consideram que não têm lugar na sociedade, que “eles” imaginaram. “Ring
a bell”? A humanidade já passou por esse filme, e parece-me que querer repetir
uma sequela, é tão estúpido, mas tão estúpido, que nos mostra que não aprendemos
nada. É pah, desculpem, mas não consigo de deixar ficar chocado com amigos meus
(alguns gays) que me dizem que votaram no André Ventura. Não consigo ficar
calado. Aí não me calo. Como é que alguém pode votar neste tipo? Como é que um
gay pode votar contra a sua liberdade e autodeterminação? Como? Alguém me
explica?
Portanto, estamos numa altura, que todos nós, os democratas
(de esquerda e de direita), temos o dever de ser activistas. De demonstrar. De
denunciar. De lutar contra esta nuvem negra,
que avança sobre a nossa liberdade, mascarada de “verdade”. Disfarçada de razão,
mas cheia de clichés e preconceito.
Comecemos pelos “nossos”, pelos nossos círculos mais próximos, onde
possamos demonstrar o erro, que é em caminhar na direcção que o Ventura tenta
mostrar, dourando-a e escondendo os reais motivos. Isto não é sobre “ciganos”.
Nunca o foi. É sobre uma tentativa de higienização da sociedade, em que aquilo
que não é “normal” não tem direito a subsistir. A existir. A respirar.
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Este blogue não é uma democracia e eu sou um ditador’zinho… pelo que não garanto que o comentário seja publicado. Mas quem não arrisca…